sábado, 29 de janeiro de 2011

Vida de Cão

Acredito que faça parte do comportamento humano comparar-se com outro indivíduo. Todos fazem isso; comparam roupas, empregos, atitudes, posses e o que mais for possível para depois sentirem-se superiores ou inferiores ao outro, ou simplesmente para não chegar a nenhuma conclusão.
Aconteceu outro dia quando, seguindo meu instinto humano, passei a me comparar com meu cachorro. Desde então me avalio, pois cheguei a conclusão de que tenho muito a aprender com ele. Eu o invejei e cheguei a considerar que seria bom para a humanidade se todos agissem como cães. Não, não! Não quero ver pessoas revirando lixeiras ou perseguindo o traseiro - embora algumas façam isso - mas creio que seria saudável para a sociedade as pessoas aprenderem a ser verdadeiras, espontâneas e puras como um cachorro. 
Um cachorro não tem vergonha de não ir ao encontro de seu dono sempre que é chamado; não tem medo de pedir algo e jamais vai se preocupar em impressionar alguém. Se não está afim, simplesmente não está e não guarda remorso de quem chama sua atenção. Um cachorro não se envergonha de sentir ciúmes, raiva ou atração, sempre deixa bem claro o que sente por alguém e não se intimida com tamanho: enfrenta quem estiver lhe incomodando. O cão não se preocupa em agradar e mesmo assim não tem medo de "perder" as amizades, pois reconhece o que é verdadeiro e sabe que tipo de companhia deseja. Ele reconhece quem lhe quer bem e dá valor para cada aspecto da personalidade de seu dono, sendo-lhe eternamente grato e fiel, independente de qualquer tipo de condição social ou econômica.
Depois de muito admirar a nobreza das atitudes do meu cachorro, confesso ter me sentido boba por decidir me "inspirar" em uma criatura que seguidamente tenta comer algo não comestível e que, provavelmente, não tem muita consciência de seus atos.Porém, a simplicidade da alma é o que há de mais sofisticado, então não irei desvalorizá-lo. Pelo contrário, chego ao final deste texto dizendo que muito podemos aprender com esses bichinhos, mas em um aspecto sempre seremos superados por eles: a comunicação. Pois por mais avançada que seja a comunicação humana, ela as vezes parece não ser suficiente para que haja, de fato, sinceridade e entendimento em uma conversa, enquanto o olhar de um cão ao seu dono já os tornam melhores amigos.


Letícia Gedrat