segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O próximo, por favor!



O trem havia saído da estação há pouco tempo e o rapaz sentado voltado para mim no banco da frente tira da mochila um exemplar de bolso da Bíblia e começa a ler. Era jovem, com um pingente de cruz no pescoço e usava uma camiseta onde estava escrito um versículo que falava sobre amor ao próximo e, logo abaixo, o nome de alguma instituição cristã de caridade.
Em meio ao barulho estridente, cheiro de borracha e sacudidas, o trem para novamente e entra uma senhorinha que senta ao lado do moço. A mulher carrega apenas uma pequena bolsa de moedas, imagino, e tem uma expressão carregada de tensão, tristeza e preocupação. O trem segue e ela aperta fortemente os olhos, junta as mãos e sussurra para si uma oração, onde sibila inúmeras vezes as palavras ”por favor”.
A cena é intensa e apavorante: alguém que se preocupa com o próximo e um “próximo” sentado bem ao seu lado sem que ele perceba. Depois de sussurrar “amém”, a senhora permanece de olhos fechados até que o alto-falante anuncie a estação onde irá descer. Ela se vai e o garoto permanece em sua leitura com a tranquilidade de um monge tibetano, em uma viagem distante, com uma expressão de satisfação por estar enchendo sua alma com as palavras bíblicas.
Chega a minha estação e desço atordoada. A visão humana é medíocre. Aquele menino parecia ser a pessoa certa para oferecer algum consolo para a senhora, por que ele não pôde ver que ela estava bem ao seu lado? Ela era o próximo naquele momento! O próximo que ele aparentemente estava pronto para ajudar! Não sabendo se considero o menino culpado ou não, cego ou não, sou interrompida pelo meu próprio pensamento: e quem estava sentado do meu lado?
É fácil ver o problema de longe. Tão fácil e tão viciante analisar e resolver mentalmente o problema dos outros que nos esquecemos de perceber se estamos cometendo os mesmos erros. Ajudar o próximo é sempre uma questão complicada, porque precisamos identificá-lo primeiro. Realmente não acho que o trem seja o local apropriado para sair dando uma de profeta, se intrometendo e aconselhando desconhecidos nos seus problemas pessoais, mas pensando na viagem da vida, é fundamental que prestemos atenção em cada novo passageiro que entra em nosso vagão e façamos o que estiver ao alcance para que, quando chegar sua estação final, ele saia melhor do que entrou.
Fácil seria se pudesse se formar uma fila, onde bastaria pedir “venha o próximo” para que surgisse aquele que precisa da sua ajuda, mas não é assim. A cada nova estação surgem novas pessoas, novas histórias e novos problemas, assim como as fases da vida, e precisamos estar preparados para lidar com isso. Vale lembrar que a ação de ajudar não é um cálculo de adição, onde no final se contabiliza os que somaram mais pontos, mas trata-se de proporção: o quanto você podia fazer e o quanto fez. E se não puder ajudar, se não puder olhar a sua volta para ver o que está errado, não atrapalhe. Não saia por aí anunciando o erro dos outros sem antes olhar para si mesmo. Propague o que tiver de bom para oferecer. Se não tiver nada, não se manifeste. Se você não foi capaz de olhar quem estava ao seu lado, não julgue quem também não o fez, aprenda com o erro dos outros.


Letícia Gedrat

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Cisne Feio


Detesto muito essa mania que muitas pessoas têm de condenar fábulas e contos de fada. Eu, pelo menos, cresci fascinada pela magia dos finais felizes e isso não me tornou uma pessoa desiludida. Mas, para isso, sempre tive presente na minha vida - graças aos meus pais - a forte diferença entre mágica e magia. A magia é aquele brilho no olhar, permitir-se sonhar, acreditar que vale a pena ter fé. Mágica é ter a vida mudada para melhor em um piscar de olhos. Contos de fada existem para mostrar às crianças que é preciso acreditar, sonhar, que temos força para vencer desafios, mas para que se entenda isso, primeiro é importante entender que nada vai acontecer se ficarmos presos em uma torre.
Apesar de defensora das histórias infantis, se tem algo que me incomoda muito é a moral da história do patinho feio. Basicamente, ela me diz: se você se sente feio ou diferente, não se preocupe, pois um dia se tornará alguém mil vezes melhor do que todos aqueles que um dia riram de você, sem que tenha que se esforçar; você realmente é um coitadinho e ninguém o compreende, só sente e aguarde. O patinho que era feio, na verdade era um cisne maravilhoso, ninguém o compreendia, mas depois tudo fez sentido, porque ele era “melhor” que todos.
Não quero entrar naquele papinho de “a vida não é um conto de fadas”, mas essa história não ensina nada de bom. O patinho não fez nada pra conquistar a superioridade, ele passou muito tempo aceitando ser rejeitado e infeliz e tudo só ficou bem quando ele era o belo cisne e pode mostrar a todos que “realmente, ninguém o compreendia”. Em minha opinião, isso parece um consolo para todas aquelas pessoas que insistem em não se sentirem boas o bastante. Assim, todas elas concordam que não são compreendidas e que, um dia, tudo ficará muito melhor e esses tempos difíceis terão passado, tornando-se alguém muito melhor do que aqueles que algum dia zombaram delas. Não! Não! Não! Esse é um conto infantil, feito para mostrar às crianças que a vida pode ser melhor do que parece, e não para fazer gente grande acreditar que mágica acontece!
Meu final alternativo para esse conto tão famoso é de que o suposto pato se descobrisse não um belo cisne, mas um cisne comum, talvez até meio abaixo da média de beleza, e fosse inteiramente feliz mesmo assim. Quero ouvir histórias de gente que não atingiu a perfeição mas aprendeu a se aceitar e ser feliz, porque é disso que se trata a vida. Se formos procurar, sempre teremos razões para estarmos insatisfeitos, e não é questão de ser um conformado, mas de admitir que não é tão ruim quanto parece.
Eu até consigo entender que o desejo de se sentir atraente é sempre dominador, mas o que pouca gente sabe é que a satisfação de se sentir melhor que os outros por ser relativamente “perfeito” é infinitamente menor do que o prazer de ser confiante e feliz levando os próprios defeitos com certo orgulho.
Se aceite. Se ame. Confie no seu próprio potencial e não tenha medo de errar. Enfrente seus problemas com naturalidade e graça e assim todos terão certeza: com ele(a) não se brinca.



Letícia Gedrat

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Roll On, Move On


   Ganhei de presente do meu Pai uma caneta. Diferente das canetas esferográficas com as pontas mordidas que tenho em meu estojo, essa é daquelas canetas bonitas, pesadas, com uma ponta roller ball que deixa a escrita com um aspecto sofisticado. Admirei-a, rabisquei um pouco e logo concluí que era especial demais, portanto deveria ser usada somente para escrever coisas importantes, que sua tinta só deveria ser gasta para produzir belas frases e, por isso, ficaria guardada esperando uma ocasião digna.
   Se essa história fosse um desenho animado, tenho certeza de que, sabendo disso, a caneta apareceria chorando em sua caixa forrada, sentindo inveja das BIC´s mordidas que anotam lembretes no dorso das minhas mãos, mas, felizmente, visualizando isso, peguei-a para escrever este texto sobre “os desejos de uma caneta”. A felicidade dela não precisa esperar um belo texto; ela pode estar em um jogo-da-velha feito na última página de um caderno, porque tudo que quer é ser usada, pois foi para isso que veio ao mundo.
   Minha mente cria analogias quase que instantaneamente e me pôs a pensar nas muitas pessoas que mantêm o costume de se “guardar”; que não são capazes de se doar porque acreditam que precisam poupar seu potencial para situações mais importantes. Deixam para depois o esforço, a felicidade porque têm plena certeza de que se esgotam se usados em excesso.
   A felicidade e satisfação estão em abrir a alma para todo e qualquer trabalho a ser feito, pois, diferente de uma caneta, nosso tempo de existência não diminui de acordo com o que produzimos, mas, assim como ela, a tinta pode secar sem que tenha chegado ao fim.
  Não estou falando de aproveitar a vida, estou falando de outro clichê que julgo ainda mais importante: gastar (totalmente diferente de desperdiçar) a vida a todo o momento; descarregar todo o potencial e energia em absolutamente tudo, de acordo com as condições possíveis em cada ocasião, pois, diferente de uma caneta, temos o poder de comandar a própria existência, logo, se estamos insatisfeitos com ela, a culpa é nossa.
   Nem tudo depende de mim, é verdade, mas, podendo sair da caixa e escrever, não há razão para invejar os que estão escrevendo.


Letícia Gedrat

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O Dia do Basta


  Você acorda como em qualquer outro dia, se veste da mesma forma mecânica e só percebe quando já botou o pé pra fora de casa: “Ah não! Mais um dia desses!”. Já é tarde demais pra encontrar uma desculpa para ficar em casa e, poxa vida, você não é mais nenhuma criança, tenha coragem!
  Ok, você sai de casa determinado a enfrentar o dia, ignorando o grito preso que acordou em sua garganta, até encontrar a primeira pessoa. A primeira pessoa que encontrares pode te trazer algum motivo pelo qual valha a pena ter fé nas pessoas, mas, como sabemos, a vida às vezes apronta com a gente, e justamente nesse dia, vai colocar na tua frente, logo pela manhã, alguém que realmente acredita que está agradando contando sobre como demorou pra decidir o que vestir naquela manhã, o que não te incomodaria em um dia comum, mas hoje incomoda. Incomoda muito.
  Você então, como alguém civilizado, bebe um gole d’água , tentando empurrar um pouco mais aquele grito na garganta, dá um sorriso amarelo e finge se importar. Pronto. A partir daí, nada vai ser legal nesse dia. Começará a pensar em coisas profundas e vai julgar tudo fútil demais; todos fúteis demais; você mesmo, fútil demais. “A vida é mais que isso, a vida é muito mais que isso” repetirá pra si mesmo, até dar de cara numa parede que diz “Meu filho, sinto muito, nem sempre a vida é muito mais do que isso”.
  Como faz pra voltar para aquele tempo que só era preciso ligar pra mamãe pra ela te buscar na escola e te levar direto para baixo das suas cobertas quentinhas? Ah, pois é, você mesmo nem viu que já tinha passado. Então cuide de si mesmo. Passe o resto do dia respirando fundo, muuuito fundo, concordando com a cabeça e cuidando para não ser indelicado com quem não te fez mal nenhum. Limite-se a justificar seu estado apenas com “pois é, não estou em um bom dia” e FAÇA O FAVOR de não entrar em nenhuma rede social ou abrir uma revista de fofocas.
  Não se julgue por repetir diariamente a si mesmo toda aquela coisa de “não desista, o mundo vale a pena, tenha coragem, persista”, mas também não tente esse mantra hoje. Hoje não vai funcionar. Feche a cara, feche a boca e não incomode ninguém com seu grito entalado: ninguém deve sofrer porque você acordou enxergando tudo com “outros olhos”.
Agora, aqui chega o ponto em que se separam os espertos do restante. Alguém esperto vai chegar em casa quase se arrastando por conta do dia pesado, tomar um banho quente e ficar quietinho refletindo sobre tudo que esse dia mostrou. Alguém estúpido vai chegar em casa chutando a porta gritando para quem quiser ouvir, listando toda a merda que aconteceu no seu dia como se isso o desse o direito de tratar mal quem não tem culpa nenhuma.
  O estúpido tentará chamar atenção, tendo absoluta certeza de que merece a pena de todos porque teve um dia ruim. Chamará o dia de bosta e irá dormir emburrado esperando que, magicamente o outro dia nasça bom e feliz. O esperto detestou o dia tanto quanto o estúpido, mas este percebe que ele mostrou coisas que os dias coloridos escondem e, secretamente, vai agradecer por ter sido desse jeito. Irá dormir com seus conceitos pessoais reformulados e, no outro dia, continuará vendo tudo diferente, mas ele achará isso muito bom.


Letícia Gedrat

sexta-feira, 11 de maio de 2012

(R)EVOLUÇÃO


   Outro dia quando andava por uma livraria, lendo as contracapas dos livros que me pareciam interessantes, fui grotescamente surpreendida por um autor que falava algo sobre estarmos vivendo a revolução do amor. Ele defendia a ideia de que, hoje em dia, ninguém mais morreria por uma causa, religião, partido, mas morreria defendendo uma pessoa amada.
   Isso me incomodou de tal forma que saí pensando em como ele estava errado, em como era ridículo afirmar tais coisas em um mundo onde, todos os dias, vemos notícias de fanatismos mortais, de violência doméstica. Mas a parte da revolução do amor me chamou atenção.
   Até que, em certo ponto da minha indignação, tive de parar e me achar boba. Eu mesma, que sempre fui partidária da ideia de que é preciso começar uma revolução pra resolver todo esse caos, tive de admitir que essa minha visão se aplicaria em um mundinho perfeito, onde esse caos significaria uma revolução se formando e não a revolução já iniciada. O que vemos hoje, infelizmente, é a revolução que esperávamos, mas que veio da pior e mais desorganizada forma possível, onde todas as pessoas estão presas em suas revoltas particulares esperando seguidores dispostos a defender os seus interesses. Ninguém mais quer um líder para dar inicio a protestos, mas querem apoio para sua própria revolta, para conseguirem o que almejam para si.
    Então chegamos ao ponto mais crítico de tudo isso, onde esses milhares de inconformados seguem insatisfeitos diante de um único poder – e não me refiro unicamente à política – porque não se dispõem a ignorar desejos individuais na intenção de trazer um benefício maior. Pensam que, se terão de lutar por algo, que ao menos isso resolva todos os seus problemas, atendendo a todos os desejos de uma única vez. E assim seguimos todos separados.
   Pensando nisso, só posso concluir que a verdadeira solução está na paz. Não que isso signifique conformidade, mas minha ideia de revolução atende o princípio de que ela tem um propósito positivo, e somente uma revolta pacífica pode resultar na evolução que se espera, pois traz a nobreza da qual tanto precisamos.
    No meu intuito de promover a paz, acho válido lembrar que paz não é o silêncio frente à maldade – isso é covardia – mas sim o grito que clama por mais amor. Esse grito deve, primeiramente, ser entoado dentro de nós, para, através de paciência, gentileza, bondade, ser transmitido a outras pessoas.
    E – sejamos francos – talvez você não ganhe nada com isso, mas esse é justamente o princípio que estou tentando apresentar: escolher fazer o certo e o bom, e não o mais vantajoso, porque o bem é bom para todos, enquanto o melhor só satisfaz você. 


Letícia Gedrat

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Vestindo a Camisa

Relembrando o tempo que me meti a jogar no time de vôlei, acabei me deparando com a lembrança de uma frase que o treinador repetia incansavelmente quando estava decepcionado com nosso desempenho em quadra. Quando parecíamos apáticas no jogo, ele pedia tempo ao juiz e – em meio a muitos xingamentos – dizia que estávamos apenas servindo de cabides; que ninguém ali estava, de fato, vestindo a camisa do time.
Infelizmente só depois de alguns anos percebi que isso fazia muito sentido – aliás, esse é um grande ensinamento da vida: que, às vezes, até os tolos tem razão – mas na época eu me concentrava em sentir raiva dele pela série de xingamentos que seguiam.
Vestir a camisa é doar-se; é dizer em bom tom: “faço parte disso e é por isso aqui que vou lutar”, e nessa luta não se pode medir esforços. Vestir a camisa também se trata de lealdade e comprometimento; é assumir responsabilidades e se arriscar a enfrentar qualquer problema de frente.
Conheço uma pessoa que – vampiros à parte – ganhou meu respeito por vestir a camisa. Acontece que ela era nova na turma e, antes mesmo de ser verdadeiramente enturmada, já defendia o novo grupo e se dizia pertencente a ele. Acredito que ela nunca tenha pensado sobre isso a ponto de perceber como foi corajosa, e hoje damos risadas ao lembrar do espanto geral ao ver ela aparecer no primeiro encontro da turma daquele ano, pois algumas pessoas já estavam ali há anos e nunca compareceram. Dessa forma ela deixou claro seu valor: se você agora faz parte de um novo time, não pode continuar torcendo pelo antigo, por mais que tenha saudades. E foi isso que a fez ser acolhida por todos.
Claro que ser bem recebido não depende de quem vem de fora, mas para que alguém queira te acolher, ele precisa sentir sua vontade de participar. O primeiro passo para fazer parte é sentir-se parte e agir como tal. É uma espécie de transformação que deve acontecer em você: para que os outros te aceitem, o esforço inicial deve vir de você, pois primeiro você precisa querer de verdade. Quem não quer de verdade serve de cabide, exibindo uma camisa que pode facilmente tirar quando a situação não for boa.
Vestir a camisa é segurar pela mão, olhar no olho e dizer: “vou estar aqui com você”. Quem serve de cabide apenas é capaz de dizer palavras bonitas e secretamente agradecer por não ter de resolver qualquer problema alheio. Eu visto a camisa da minha família, dos meus amigos e daquilo em que acredito. A tudo isso sou fiel antes de qualquer coisa e pra defender essas camisas eu luto com a força que muitas vezes nem tenho, pois tenho certeza que quem veste minha camisa pensa da mesma forma.
Pensar sobre isso me leva a uma única e simples exigência que aplico a todas as relações que mantenho: se não for pra vestir a camisa, não entre no time.




Letícia Gedrat




terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Pensando no que pensam (os que pensam)

Talvez seja um breve momento de “amor ao próximo” em minha vida, mas já não consigo culpar ninguém por nada. Quer dizer, não precipitadamente pelo menos. Se antes, quando alguém me tratava mal eu pensava “que estúpido!”, agora penso “que será que eu fiz mesmo?”. E não faço isso com ironia não, percebi que é muito raro alguém que consideramos sensato nos tratar mal sem motivo nenhum, mesmo que muitas vezes nem tenhamos nada a ver com tal motivo. 
Esse, certamente, é o princípio de perdoar: reconhecer no outro um erro; algo não condizente com seu caráter. Se você sabe reconhecer um erro, também sabe que qualquer um pode errar, e, a partir disso, consegue começar a esquecer a burrada do seu amigo. A parte mais difícil é saber se foi realmente um erro ou uma parte ruim do caráter conseguindo escapar...
Pra falar bem a verdade, grande parte do que chamamos de erro são meros mal-entendidos, e chamo de mal-entendido tudo aquilo que acontece quando alguém não compreende bem o nosso sentimento mais profundo em relação a algo ou alguém. E sim, quase sempre a culpa é toda nossa, pois é realmente complicado conseguir expressar todo esse sentimento.
O que estou querendo dizer é algo que talvez você nunca tenha percebido, mas é completamente verdade – não que mude muita coisa-; o que estou dizendo é que você acha que as pessoas entendem todas as suas intenções, mas não, não são todas compreendidas.
Você acha que seus amigos entendem que quando você fala que ama eles você também quer dizer como sente orgulho de quem são, como faria qualquer coisa por eles; mas eles entendem que você ama eles, e ponto.
Você pensa que quando olha com os olhos brilhando pra alguém, essa pessoa entende que você está pensando que ela é especial demais pra você, que, naquele momento, é a pessoa mais linda do mundo; mas o que ela vê é você com um jeitinho meio dengoso.
Entenda, por favor, que eu não estou querendo te apresentar uma visão negativa do mundo, mas sim introduzir um importante fato: quase ninguém entende o que você não verbaliza – muitas vezes não entendem o que você verbaliza também, mas daí é outra história. Portanto pare com essa mania de se sentir incompreendido e mal amado se você ainda não aprendeu a fazer as pessoas realmente entenderem o que você quer.
De repente, pela primeira vez na vida, consegui encontrar um bom motivo pra me preocupar com o que os outros pensam de mim.  Penso que, se os outros pensam algo errado a meu respeito, talvez a culpa seja minha, por estar demonstrando de maneira errada meus verdadeiros sentimentos. Pensando no significado mais profundo disso, decidi me dedicar mais aos detalhes: demonstrar exatamente o que estou sentindo, sem esperar que os outros entendam isso sozinhos.
Com tudo isso, e, aplicando a mesma lei do “não perfeito expressionismo” a todos os seres humanos, chego a conclusão de que a melhor coisa que se aprende com isso é a importância de confiar nas pessoas próximas de nós e, com elas, interpretar tudo sempre da melhor maneira. Pode parecer só mais uma besteira de “lei da boa convivência” mas não é. Saiba em quem pode confiar, e nessa pessoa confie de verdade. Se ela te disser que não fez por querer, é porque ela não fez! Pare de especular sobre cada coisa que acontece ao seu redor. Você tem seus dias ruins e desconta em todo mundo? Ok, deixe que descontem em você também. Dê risada em silêncio quando um amigo estiver de mau humor, não o culpe por isso.
Guarde o melhor para os melhores, portanto pare de ser gentil com meros conhecidos e desagradável com quem se importa de verdade com você. 
Não que sua família e seus amigos sejam incapazes de perdoar suas frescuras, mas eles são seu bem mais precioso; eles são um diamante que não vai quebrar, mas por que permitir que recebam arranhões?

Letícia Gedrat