quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Vestindo a Camisa

Relembrando o tempo que me meti a jogar no time de vôlei, acabei me deparando com a lembrança de uma frase que o treinador repetia incansavelmente quando estava decepcionado com nosso desempenho em quadra. Quando parecíamos apáticas no jogo, ele pedia tempo ao juiz e – em meio a muitos xingamentos – dizia que estávamos apenas servindo de cabides; que ninguém ali estava, de fato, vestindo a camisa do time.
Infelizmente só depois de alguns anos percebi que isso fazia muito sentido – aliás, esse é um grande ensinamento da vida: que, às vezes, até os tolos tem razão – mas na época eu me concentrava em sentir raiva dele pela série de xingamentos que seguiam.
Vestir a camisa é doar-se; é dizer em bom tom: “faço parte disso e é por isso aqui que vou lutar”, e nessa luta não se pode medir esforços. Vestir a camisa também se trata de lealdade e comprometimento; é assumir responsabilidades e se arriscar a enfrentar qualquer problema de frente.
Conheço uma pessoa que – vampiros à parte – ganhou meu respeito por vestir a camisa. Acontece que ela era nova na turma e, antes mesmo de ser verdadeiramente enturmada, já defendia o novo grupo e se dizia pertencente a ele. Acredito que ela nunca tenha pensado sobre isso a ponto de perceber como foi corajosa, e hoje damos risadas ao lembrar do espanto geral ao ver ela aparecer no primeiro encontro da turma daquele ano, pois algumas pessoas já estavam ali há anos e nunca compareceram. Dessa forma ela deixou claro seu valor: se você agora faz parte de um novo time, não pode continuar torcendo pelo antigo, por mais que tenha saudades. E foi isso que a fez ser acolhida por todos.
Claro que ser bem recebido não depende de quem vem de fora, mas para que alguém queira te acolher, ele precisa sentir sua vontade de participar. O primeiro passo para fazer parte é sentir-se parte e agir como tal. É uma espécie de transformação que deve acontecer em você: para que os outros te aceitem, o esforço inicial deve vir de você, pois primeiro você precisa querer de verdade. Quem não quer de verdade serve de cabide, exibindo uma camisa que pode facilmente tirar quando a situação não for boa.
Vestir a camisa é segurar pela mão, olhar no olho e dizer: “vou estar aqui com você”. Quem serve de cabide apenas é capaz de dizer palavras bonitas e secretamente agradecer por não ter de resolver qualquer problema alheio. Eu visto a camisa da minha família, dos meus amigos e daquilo em que acredito. A tudo isso sou fiel antes de qualquer coisa e pra defender essas camisas eu luto com a força que muitas vezes nem tenho, pois tenho certeza que quem veste minha camisa pensa da mesma forma.
Pensar sobre isso me leva a uma única e simples exigência que aplico a todas as relações que mantenho: se não for pra vestir a camisa, não entre no time.




Letícia Gedrat