quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sem Leite no Café

Quando eu era criança e queria brincar com as crianças maiores, eu sempre pedia para ser “café com leite”.  Ser café com leite não me deixava com medo ou vergonha de ser pega ou escolhida, porque isso não poderia acontecer. Depois de algum tempo que perdi esse péssimo hábito comecei a me questionar e creio que nunca encontrarei a resposta de por que eu achava que estava, realmente, na brincadeira. Afinal, o que um “café com leite” faz na brincadeira do pega-pega? NADA. Eu ficava correndo de um lado pro outro, para fingir que estava sentindo a emoção de ser perseguida, mas não estava porque, obviamente, ninguém persegue o café com leite. Para me sentir segura, precisava da certeza de que “o pior” não iria acontecer e, para isso, abria mão da melhor parte: a emoção da fuga. Claro que, depois de algum tempo, a brincadeira já não tinha graça nenhuma, mas não acredito que alguém sentisse minha falta quando eu me retirava, porque eu estava brincando comigo mesma.
Todo dia desejamos estar a salvo, sem precisar contar com imprevistos, para que nossas expectativas se realizem. Mas a verdade é que – mesmo que nós mesmos não saibamos disso – gostamos de correr o risco do fracasso, pois assim a vitória é cada vez mais valiosa. Qual a graça de não correr riscos? Qual é a graça de não receber desafios? Somos diariamente desafiados, mas na maioria das vezes interpretamos isso errado. Talvez não seja a vida que esteja ruim ou difícil, mas sim eu que não estou aceitando o desafio a mim destinado, desafio de ser sempre melhor.
Pode soar engraçado, mas eu precisei que me ensinassem que é sempre necessário dar o melhor de si. No meu entendimento era normal ficar “se guardando” para outra coisa que valesse mais a pena, mas o que vale mais a pena do que o “aqui” e o “agora”? Não posso dizer que depois desse ensinamento eu sempre me doei a tudo que estava fazendo, mas tenho certeza de que aprendi a valorizar o trabalho bem-feito de maneira que antes não fazia; aprendi a valorizar o trabalho que se dispõe ao desafio de ser julgado, porque foi bem feito, a ele foi dado seu máximo.
Outro dia quando me imaginava, pequena ( e café com leite), correndo e achando que estava fazendo algo além de correr, pensei em como eu estava sendo fraca e até mesmo preguiçosa. Era tão mais fácil ser café com leite para não ser pega do que ser boa no jogo e conseguir não ser pega por próprio mérito. Felizmente aprendi que não tenho essa opção na vida, pois estarei sempre competindo com quem se arrisca e então, é preciso se arriscar também.
 O que espero deixar a vocês, com quem compartilho minhas palavras é que, mesmo que um dia se deparem com uma situação de soa muito confortável e estável, sem correr riscos, não aceitem, pois sua condição de ser humano competidor nunca estará satisfeita, e quando finalmente criar coragem para deixar tudo isso para trás, perceberá que não terão muitas pessoas que sentirão sua falta no “jogo”. Tenha vontade de competir e de ganhar, tenha garra de ser o melhor, por mais que talvez nunca vá ser. Não se entregue a você mesmo, pois esse é seu pior inimigo. Por mais difícil que estiver, por favor, não se entregue, para ter um dia o prazer de lembrar como foi forte, e sentir orgulho de si mesmo. 




Letícia Gedrat