quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Cisne Feio


Detesto muito essa mania que muitas pessoas têm de condenar fábulas e contos de fada. Eu, pelo menos, cresci fascinada pela magia dos finais felizes e isso não me tornou uma pessoa desiludida. Mas, para isso, sempre tive presente na minha vida - graças aos meus pais - a forte diferença entre mágica e magia. A magia é aquele brilho no olhar, permitir-se sonhar, acreditar que vale a pena ter fé. Mágica é ter a vida mudada para melhor em um piscar de olhos. Contos de fada existem para mostrar às crianças que é preciso acreditar, sonhar, que temos força para vencer desafios, mas para que se entenda isso, primeiro é importante entender que nada vai acontecer se ficarmos presos em uma torre.
Apesar de defensora das histórias infantis, se tem algo que me incomoda muito é a moral da história do patinho feio. Basicamente, ela me diz: se você se sente feio ou diferente, não se preocupe, pois um dia se tornará alguém mil vezes melhor do que todos aqueles que um dia riram de você, sem que tenha que se esforçar; você realmente é um coitadinho e ninguém o compreende, só sente e aguarde. O patinho que era feio, na verdade era um cisne maravilhoso, ninguém o compreendia, mas depois tudo fez sentido, porque ele era “melhor” que todos.
Não quero entrar naquele papinho de “a vida não é um conto de fadas”, mas essa história não ensina nada de bom. O patinho não fez nada pra conquistar a superioridade, ele passou muito tempo aceitando ser rejeitado e infeliz e tudo só ficou bem quando ele era o belo cisne e pode mostrar a todos que “realmente, ninguém o compreendia”. Em minha opinião, isso parece um consolo para todas aquelas pessoas que insistem em não se sentirem boas o bastante. Assim, todas elas concordam que não são compreendidas e que, um dia, tudo ficará muito melhor e esses tempos difíceis terão passado, tornando-se alguém muito melhor do que aqueles que algum dia zombaram delas. Não! Não! Não! Esse é um conto infantil, feito para mostrar às crianças que a vida pode ser melhor do que parece, e não para fazer gente grande acreditar que mágica acontece!
Meu final alternativo para esse conto tão famoso é de que o suposto pato se descobrisse não um belo cisne, mas um cisne comum, talvez até meio abaixo da média de beleza, e fosse inteiramente feliz mesmo assim. Quero ouvir histórias de gente que não atingiu a perfeição mas aprendeu a se aceitar e ser feliz, porque é disso que se trata a vida. Se formos procurar, sempre teremos razões para estarmos insatisfeitos, e não é questão de ser um conformado, mas de admitir que não é tão ruim quanto parece.
Eu até consigo entender que o desejo de se sentir atraente é sempre dominador, mas o que pouca gente sabe é que a satisfação de se sentir melhor que os outros por ser relativamente “perfeito” é infinitamente menor do que o prazer de ser confiante e feliz levando os próprios defeitos com certo orgulho.
Se aceite. Se ame. Confie no seu próprio potencial e não tenha medo de errar. Enfrente seus problemas com naturalidade e graça e assim todos terão certeza: com ele(a) não se brinca.



Letícia Gedrat

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Roll On, Move On


   Ganhei de presente do meu Pai uma caneta. Diferente das canetas esferográficas com as pontas mordidas que tenho em meu estojo, essa é daquelas canetas bonitas, pesadas, com uma ponta roller ball que deixa a escrita com um aspecto sofisticado. Admirei-a, rabisquei um pouco e logo concluí que era especial demais, portanto deveria ser usada somente para escrever coisas importantes, que sua tinta só deveria ser gasta para produzir belas frases e, por isso, ficaria guardada esperando uma ocasião digna.
   Se essa história fosse um desenho animado, tenho certeza de que, sabendo disso, a caneta apareceria chorando em sua caixa forrada, sentindo inveja das BIC´s mordidas que anotam lembretes no dorso das minhas mãos, mas, felizmente, visualizando isso, peguei-a para escrever este texto sobre “os desejos de uma caneta”. A felicidade dela não precisa esperar um belo texto; ela pode estar em um jogo-da-velha feito na última página de um caderno, porque tudo que quer é ser usada, pois foi para isso que veio ao mundo.
   Minha mente cria analogias quase que instantaneamente e me pôs a pensar nas muitas pessoas que mantêm o costume de se “guardar”; que não são capazes de se doar porque acreditam que precisam poupar seu potencial para situações mais importantes. Deixam para depois o esforço, a felicidade porque têm plena certeza de que se esgotam se usados em excesso.
   A felicidade e satisfação estão em abrir a alma para todo e qualquer trabalho a ser feito, pois, diferente de uma caneta, nosso tempo de existência não diminui de acordo com o que produzimos, mas, assim como ela, a tinta pode secar sem que tenha chegado ao fim.
  Não estou falando de aproveitar a vida, estou falando de outro clichê que julgo ainda mais importante: gastar (totalmente diferente de desperdiçar) a vida a todo o momento; descarregar todo o potencial e energia em absolutamente tudo, de acordo com as condições possíveis em cada ocasião, pois, diferente de uma caneta, temos o poder de comandar a própria existência, logo, se estamos insatisfeitos com ela, a culpa é nossa.
   Nem tudo depende de mim, é verdade, mas, podendo sair da caixa e escrever, não há razão para invejar os que estão escrevendo.


Letícia Gedrat