terça-feira, 14 de agosto de 2012

Roll On, Move On


   Ganhei de presente do meu Pai uma caneta. Diferente das canetas esferográficas com as pontas mordidas que tenho em meu estojo, essa é daquelas canetas bonitas, pesadas, com uma ponta roller ball que deixa a escrita com um aspecto sofisticado. Admirei-a, rabisquei um pouco e logo concluí que era especial demais, portanto deveria ser usada somente para escrever coisas importantes, que sua tinta só deveria ser gasta para produzir belas frases e, por isso, ficaria guardada esperando uma ocasião digna.
   Se essa história fosse um desenho animado, tenho certeza de que, sabendo disso, a caneta apareceria chorando em sua caixa forrada, sentindo inveja das BIC´s mordidas que anotam lembretes no dorso das minhas mãos, mas, felizmente, visualizando isso, peguei-a para escrever este texto sobre “os desejos de uma caneta”. A felicidade dela não precisa esperar um belo texto; ela pode estar em um jogo-da-velha feito na última página de um caderno, porque tudo que quer é ser usada, pois foi para isso que veio ao mundo.
   Minha mente cria analogias quase que instantaneamente e me pôs a pensar nas muitas pessoas que mantêm o costume de se “guardar”; que não são capazes de se doar porque acreditam que precisam poupar seu potencial para situações mais importantes. Deixam para depois o esforço, a felicidade porque têm plena certeza de que se esgotam se usados em excesso.
   A felicidade e satisfação estão em abrir a alma para todo e qualquer trabalho a ser feito, pois, diferente de uma caneta, nosso tempo de existência não diminui de acordo com o que produzimos, mas, assim como ela, a tinta pode secar sem que tenha chegado ao fim.
  Não estou falando de aproveitar a vida, estou falando de outro clichê que julgo ainda mais importante: gastar (totalmente diferente de desperdiçar) a vida a todo o momento; descarregar todo o potencial e energia em absolutamente tudo, de acordo com as condições possíveis em cada ocasião, pois, diferente de uma caneta, temos o poder de comandar a própria existência, logo, se estamos insatisfeitos com ela, a culpa é nossa.
   Nem tudo depende de mim, é verdade, mas, podendo sair da caixa e escrever, não há razão para invejar os que estão escrevendo.


Letícia Gedrat

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