Detesto muito essa mania que
muitas pessoas têm de condenar fábulas e contos de fada. Eu, pelo menos, cresci
fascinada pela magia dos finais felizes e isso não me tornou uma pessoa
desiludida. Mas, para isso, sempre tive presente na minha vida - graças aos meus pais - a forte diferença
entre mágica e magia. A magia é aquele brilho no olhar, permitir-se sonhar, acreditar
que vale a pena ter fé. Mágica é ter a vida mudada para melhor em um piscar de
olhos. Contos de fada existem para mostrar às crianças que é preciso acreditar,
sonhar, que temos força para vencer desafios, mas para que se entenda isso,
primeiro é importante entender que nada vai acontecer se ficarmos presos em uma
torre.
Apesar de defensora das histórias
infantis, se tem algo que me incomoda muito é a moral da história do patinho
feio. Basicamente, ela me diz: se você se sente feio ou diferente, não se preocupe,
pois um dia se tornará alguém mil vezes melhor do que todos aqueles que um dia
riram de você, sem que tenha que se esforçar; você realmente é um coitadinho e
ninguém o compreende, só sente e aguarde. O patinho que era feio, na verdade
era um cisne maravilhoso, ninguém o compreendia, mas depois tudo fez sentido,
porque ele era “melhor” que todos.
Não quero entrar naquele papinho
de “a vida não é um conto de fadas”, mas essa história não ensina nada de bom.
O patinho não fez nada pra conquistar a superioridade, ele passou muito tempo
aceitando ser rejeitado e infeliz e tudo só ficou bem quando ele era o belo
cisne e pode mostrar a todos que “realmente, ninguém o compreendia”. Em minha
opinião, isso parece um consolo para todas aquelas pessoas que insistem em não
se sentirem boas o bastante. Assim, todas elas concordam que não são
compreendidas e que, um dia, tudo ficará muito melhor e esses tempos difíceis
terão passado, tornando-se alguém muito melhor do que aqueles que algum dia
zombaram delas. Não! Não! Não! Esse é um conto infantil, feito para mostrar às
crianças que a vida pode ser melhor do que parece, e não para fazer gente
grande acreditar que mágica acontece!
Meu final alternativo para esse
conto tão famoso é de que o suposto pato se descobrisse não um belo cisne, mas
um cisne comum, talvez até meio abaixo da média de beleza, e fosse inteiramente
feliz mesmo assim. Quero ouvir histórias de gente que não atingiu a perfeição
mas aprendeu a se aceitar e ser feliz, porque é disso que se trata a vida. Se
formos procurar, sempre teremos razões para estarmos insatisfeitos, e não é
questão de ser um conformado, mas de admitir que não é tão ruim quanto parece.
Eu até consigo entender que o
desejo de se sentir atraente é sempre dominador, mas o que pouca gente sabe é
que a satisfação de se sentir melhor que os outros por ser relativamente “perfeito”
é infinitamente menor do que o prazer de ser confiante e feliz levando os
próprios defeitos com certo orgulho.
Se aceite. Se ame. Confie no seu
próprio potencial e não tenha medo de errar. Enfrente seus problemas com
naturalidade e graça e assim todos terão certeza: com ele(a) não se brinca.
Letícia Gedrat
Nenhum comentário:
Postar um comentário