quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Velha Lição de Moral

  Outro dia quando voltava pra casa à noite, de carro com minha mãe, passamos por um homem, já de cabelos brancos, que tentava arrumar sua bicicleta na calçada. No momento em que o vi logo pensei “coitadinho do vovô, alguém precisa ajudá-lo”, mas o carro continuou andando e eu pensei “é, ALGUÉM precisa ajudá-lo”. Que susto levei quando vi minha mãe virando a direção para dar a volta na quadra dizendo “viu aquele vovô? PRECISAMOS ajudar ele!”.
  Isso pra mim foi como um tapa na cara; um verdadeiro susto, porque, por mais ridículo que pareça, nem tinha passado pela minha cabeça que eu poderia ser o “alguém”que ajudaria o velhinho, mas já me sentia uma alma caridosa por sentir pena dele. Foi um susto porque eu não percebi que sentir pena dele não mudava em nada seu problema, e só então consegui notar a enorme distância que separa o reconhecimento de que alguém precisa de ajuda da verdadeira ação de ajudar essa pessoa.
  Depois disso, em estado de choque pela minha incrível descoberta, tentei lembrar de momentos na minha vida em que eu precisei de ajuda e todos pareciam seguir seu rumo normalmente, sem se importar comigo. Só então, enxerguei o outro lado; o lado de que eles até se importavam, mas não achavam que cabia a eles se manifestar. Esse provavelmente é o maior erro que cometemos, sempre achamos que não cabe a nós quando, na verdade, ajudar alguém que precisa SEMPRE cabe a qualquer um que possa fazer isso.
  Decidi exercitar isso um pouco mais e percebi também que não existe problema pequeno demais para uma ajuda e nem problemas grandes demais que uma ajuda, qualquer que seja, não faça alguma diferença. AJUDE E DEIXE QUE TE AJUDEM, peça se precisar, não tenha vergonha, mas não conte com a solidariedade de todos, pois ainda existem aqueles que não acreditam que os problemas dos outros sejam tão importantes quanto os seus; ainda existem aqueles que acham que já fizeram muito apenas sentindo pena, e continuam andando no carro como se isso resolvesse o problema.
  No fim, o vovô nem era um vovô, era apenas um homem de cabelos brancos que até parecia gostar de estar arrumando a bicicleta de noite, na rua. Ele não precisava de ajuda, minha mãe não precisou fazer nada e foi pra casa feliz, achando que não tinha ajudado ninguém quando, na verdade, tinha me aberto os olhos. Isso me lembra que preciso agradecer a ela, porque AGRADECER também é o estímulo pra alguém continuar ajudando. 


Letícia Gedrat

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