Você acorda como em qualquer
outro dia, se veste da mesma forma mecânica e só percebe quando já botou o pé
pra fora de casa: “Ah não! Mais um dia desses!”. Já é tarde demais pra
encontrar uma desculpa para ficar em casa e, poxa vida, você não é mais nenhuma
criança, tenha coragem!
Ok, você sai de casa determinado
a enfrentar o dia, ignorando o grito preso que acordou em sua garganta, até
encontrar a primeira pessoa. A primeira pessoa que encontrares pode te trazer
algum motivo pelo qual valha a pena ter fé nas pessoas, mas, como sabemos, a
vida às vezes apronta com a gente, e justamente nesse dia, vai colocar na tua
frente, logo pela manhã, alguém que realmente acredita que está agradando
contando sobre como demorou pra decidir o que vestir naquela manhã, o que não
te incomodaria em um dia comum, mas hoje incomoda. Incomoda muito.
Você então, como alguém
civilizado, bebe um gole d’água , tentando empurrar um pouco mais aquele grito
na garganta, dá um sorriso amarelo e finge se importar. Pronto. A partir daí,
nada vai ser legal nesse dia. Começará a pensar em coisas profundas e vai
julgar tudo fútil demais; todos fúteis demais; você mesmo, fútil demais. “A
vida é mais que isso, a vida é muito mais que isso” repetirá pra si mesmo, até
dar de cara numa parede que diz “Meu filho, sinto muito, nem sempre a vida é muito
mais do que isso”.
Como faz pra voltar para aquele
tempo que só era preciso ligar pra mamãe pra ela te buscar na escola e te
levar direto para baixo das suas cobertas quentinhas? Ah, pois é, você mesmo
nem viu que já tinha passado. Então cuide de si mesmo. Passe o resto do dia
respirando fundo, muuuito fundo, concordando com a cabeça e cuidando para não
ser indelicado com quem não te fez mal nenhum. Limite-se a justificar seu
estado apenas com “pois é, não estou em um bom dia” e FAÇA O FAVOR de não
entrar em nenhuma rede social ou abrir uma revista de fofocas.
Não se julgue por repetir
diariamente a si mesmo toda aquela coisa de “não desista, o mundo vale a pena,
tenha coragem, persista”, mas também não tente esse mantra hoje. Hoje não vai
funcionar. Feche a cara, feche a boca e não incomode ninguém com seu grito
entalado: ninguém deve sofrer porque você acordou enxergando tudo com “outros
olhos”.
Agora, aqui chega o ponto em que
se separam os espertos do restante. Alguém esperto vai chegar em casa quase se
arrastando por conta do dia pesado, tomar um banho quente e ficar quietinho
refletindo sobre tudo que esse dia mostrou. Alguém estúpido vai chegar em casa
chutando a porta gritando para quem quiser ouvir, listando toda a merda que
aconteceu no seu dia como se isso o desse o direito de tratar mal quem não tem
culpa nenhuma.
O estúpido tentará chamar
atenção, tendo absoluta certeza de que merece a pena de todos porque teve um
dia ruim. Chamará o dia de bosta e irá dormir emburrado esperando que,
magicamente o outro dia nasça bom e feliz. O esperto detestou o dia tanto quanto o estúpido, mas este percebe que ele mostrou coisas que os dias coloridos escondem
e, secretamente, vai agradecer por ter sido desse jeito. Irá dormir com seus
conceitos pessoais reformulados e, no outro dia, continuará vendo tudo
diferente, mas ele achará isso muito bom.
Letícia Gedrat
acho que vc eh a esperta e conhece um estúpido usahushuasu
ResponderExcluirjá fui os dois :p
acho tb que nestes dias estranhos, a gente nem consegue se importar muito com as coisas... sério... quando eu tento muito, até da uma diferençazinha, mas não é o suficiente pra achar que é um "dia bom"
boa sorte com os estúpidos hehehe
ô Lê, le o teu próprio post "Brilhar sem Luz" que é muito bom nos dias de basta
ResponderExcluirIsso é bem verdade, nem sempre é muito fácil. Mas tem que pensar que nem sempre esse "Dia do Basta" tem só 24h
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