domingo, 13 de março de 2011

Lagartixa no Banheiro

Faz mais ou menos três dias que, ao entrar no banheiro, me deparei com uma lagartixinha no teto. Como ela era pequena e não tinha a menor semelhança com insetos asquerosos que habitam esgotos, não tive nojo nem medo; achei ela engraçadinha. Desde então, ao entrar no banheiro, a primeira coisa que fazia era procurar por teto e paredes o meu bixinho. Há mais ou menos três dias eu pensava nela e achava interessante o lugar que havia escolhido para viver, e, claro, gostava da idéia de ter um "lagartinho" de estimação.
Aconteceu hoje de manhã quando, escovando os dentes, não conseguia encontrar minha amiguinha e já pensava que era uma traidora; que fugira de mim. Demorei algum tempo para me sentir a maior idiota do mundo e não me senti assim porque eu dava falta de uma lagartixa amiga, não! Me senti assim porque eu realmente achei, por mais ou menos três dias, que ela estava ali para ser minha amiga; que ela queria estar ali; que ela sabia como sair. Por mais ou menos três dias eu olhava pra ela e a achava curiosa e simpática com seus olhinhos de lagartixa enquanto, na verdade, ela provavelmente estava desesperada, me olhando e esperando que eu pudesse fazer alguma coisa, mesmo que talvez não soubesse que eu tinha total condição de tirá-la dali.
Ela conseguiu sair, ela encontrou a janela do banheiro sozinha, mas levou mais ou menos três dias para isso; três preciosos dias na curta vida de uma lagartixa, enquanto eu poderia facilmente ter resolvido seu problema em segundos. Me senti cega e ignorante.
Antes de me julgar louca, olhe ao seu redor: quantas lagartixas podem estar presas no banheiro? Quantas pessoas sofrem sérios problemas internos que procuram não demonstrar enquanto todos passam por elas e pensam que são como são por pura opção quando, na verdade, elas esperam ajuda ou esperam que o tempo passe e leve consigo todas as suas angústias. Quantas vezes você poderia ter ajudado alguém com a facilidade de quem consegue tirar uma lagartixa do banheiro.
Sofrer sozinho dói muito mais porém, muitos preferem guardar sua dor somente para si. As vezes, com gestos muito sutis, já é possível imaginar o tamanho da necessidade de alguém, mas é preciso atenção a esses detalhes.
Conheci, há um tempo atrás, uma moça maravilhosa. Ela era linda, morava no exterior e exalava alegria. Passei algum tempo conhecendo e, de certa forma, invejando seu jeito feliz e simples de ser. Depois de mais ou menos três dias do nosso encontro, recebi a notícia de que essa moça havia tentado se suicidar. Me senti cega e ignorante. Interpretei ela errado e me senti muito culpada por isso, porque, por algum tempo, eu estive na vida dela e se tivesse me atido aos pequenos "sinais" que mostravam sentimentos diferentes dos que ela realmente demonstrava, eu poderia ter feito alguma diferença.
Tanto a lagartixa como a moça estão bem agora, acredito eu, mas o fato é que eu poderia ter feito qualquer coisa que acrescentasse algo ou facilitasse suas vidas e não fiz, porque eu achei que era completamente desnecessário, enquanto talvez tivesse sido de vital importância.
Emoções bem escondidas são difíceis de detectar, por isso agora estou muito atenta a pequenas ações. Pra ser sincera, realmente espero que faças o mesmo porque "descarregar" os problemas alivia a consciência, logo, quem não pede por ajuda é justamente quem mais precisa.




Letícia Gedrat

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